sábado, 25 de fevereiro de 2012

Trecho de "Desonra"



“Sentado a sua escrivaninha, olhando o jardim descuidado, ele se deslumbra com o que o pequeno banjo está lhe ensinando. Seis meses atrás, pensava que seu próprio lugar fantasmagórico em Byron na Itália ficaria em algum ponto entre Teresa e Byron: entre o desejo de prolongar o verão do corpo apaixonado e o relutante chamado para o longo declínio do esquecimento. Mas estava errado. Não é o erótico que o atrai afinal, nem o elegíaco, mas o cômico. Ele não se vê na ópera nem como Teresa, nem como Byron, nem mesmo como uma fusão dos dois: ele se vê na música em si, no planger pequeno, simples, das cordas do banjo, na voz que luta para se afastar do instrumento jocoso, mas que é continuamente puxada de volta, como um peixe na linha.
Então é isso a arte, pensa, e é assim que funciona! Que estranho! Que fascinante!”

Desonra, de J. M. Coetzee, p. 207

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