domingo, 19 de agosto de 2012

B sobre Milton Santos


Meu caro Saulo,

Você iria gostar muito de ler Milton Santos, nas suas reflexões sertanistas — aliás todos vocês. Inclusive porque ele inventou mais conceitos que a Colorama e a Risqué inventaram nomes de esmaltes juntos. Embora nunca estivesse preocupado em fixá-los com rigor, mas tão-somente queria propor novos nomes para novos fenômenos, em um dos seus livrinhos (todos são bem pequenos, de fácil leitura), chamado "A Urbanização Brasileira", ele sugere estes conceitos intermediários de que sente falta. 

Ele diz que não dá mais para falar de Brasil urbano e Brasil rural, mas de um Brasil agrícola com urbanização ("a agricultura tecendo a dinâmica e nexo da cidade") e de um Brasil urbano com aspectos rurais ("embora o secundário e o terciário predominem").

Ele também atenta para o fato de ser difícil conceituar se a gente generaliza. Uma de suas famosas classificações de espaço é a que delimita três tipos de interação homem-natureza: o meio natural, o meio técnico e o meio técnico-científico-
informacional. O primeiro é aquele ambiente em que o homem subjuga-se ao tempo e possibilidades da natureza originária de um terreno, como os portugueses explorando pau-brasil. O segundo, o homem já domina algumas técnicas que permitem-lhe domar, em parte, a natureza. E o terceiro, bem, você já imagina.

Acontece que, diz Milton Santos, esta evolução espacial se dá em tempos diferentes no conjunto do país e mesmo em um mesmo lugar. À interpolação das camadas de um meio com outro ele chama de — olha que lindo — rugosidades. Os pescadores do Rio Vermelho seriam uma rugosidade.

Mas eu tô falando tudo isto porque ele faz uma observação interessante sobre o processo de colonização determinando as nossas dinâmicas regionais.  O Nordeste, tendo sido o primeiro lugar colonizado e onde vingou a primeira estratégia econômica, baseada no latifúndio, ficou muito marcado pelo meio técnico a que lhe foi imposto — a produção agrícola em larga escala, notadamente para exportação; e em menor escala, para consumo local.

O Centro-Oeste, ao contrário, foi colonizado sobretudo a partir dos anos 1960, uma época em que já tínhamos dinâmicas econômicas novas, criadas pela ascensão do meio técnico-científico-
informacional. Eu sempre tentei comparar cidades a homens, no sentido de que cidades mais velhas seriam mais experientes. Mas, ao que parece, o ponto da analogia é outro: quanto mais jovens, mais flexíveis e adaptáveis aos novos processos!

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